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Thursday, April 24, 2014

Gênio da favela?

Comentário de um senhor de 63 anos, negro, primeiro grau incompleto, assalariado, serviços gerais de hospital, morador do Pavão-pavãozinho, aprendeu francês e inglês através de jornais adquiridos de turistas, escuta jazz, bossa nova e leu Aldous Huxley, nunca prestou vestibular e se sente menosprezado com as cotas :

 "Tão querendo transformar favela em quartel militar. Cidadão puxa gato de telefone e televisão a cabo e quem vai fiscalizar não é fiscal da prefeitura, é pm. Vizinho discute com vizinho, não existe juiz de paz, existe pm. Falta a presença efetiva do estado  nas nossas comunidades. Mataram um moleque, dançarino da Globo. Não sei até que ponto esse moleque era ligado ao Pitbull (traficante de alta periculosidade do Pavão-Pavãozinho), não sei em que circunstâncias o fato ocorreu. Mas a comunidade jamais vai aceitar ser tratada como soldado, com truculência e "pede pra sair". Pm insatisfeito com a própria condição passa a ser alguém na hierarquia da favela, moleque insatisfeito com a sua própria condição passa a ser delinquente, outros que outrora tinham condição superior na hierarquia do tráfico continuam por lá, e não me atrevo a dizer que continuam por lá com a conivência do governo, mas pelo menos com omissão, pois ao que me parece a função de UPP não é terminar com o tráfico ou trazer o estado  na integra à favela, mas preparar a cidade aos grandes eventos esportivos. E  assim está feita a guerra. UPPs permanecerão até quando? Imagina depois de final de Agosto de 2016."

Ouvindo esse cidadão, eu, um sujeito que ainda prefere a tolerância zero ao estilo novaiorque-contra-o-crime, em detrimento da passividade alienada da esquerda caviar (direitos humanos), abri um espaço para reflexão. Conheço muitos cidadãos como esse senhor, moradores de comunidades, muitos sem noções de cidadania, infelizmente a maioria de baixa escolaridade e pouca capacidade de entendimento do reflexo de atos ilegais, ou do porquê da presença ostensiva da pm na favela. É um universo bastante complicado e de difícil organização, anos de crescimento irregular e estado paralelo. Definitivamente, não precisa ser um gênio para entender que baixar a porrada não ajusta nada, assim como a martirização de jovens, delinquentes ou inocentes, não nos salva do caos social.
Eu respeito opiniões, principalmente de um provável quociente de inteligência diferenciado como o senhor referido acima. Nem passividade caviar, nem truculência a la Churchill Brocador (direita extremista). Será que há uma fórmula prática e efetiva  entre esses dois pólos e que se aplique a nossa realidade social? Viveremos para ver ou não.

1 comment:

Unknown said...

Arguta reflexão.